Por que Austrália?
Eu nunca fui daqueles jovens que tinha um mapa-mundi na parede do quarto, que sonhava
viajar o mundo, mochila nas costas e pé na estrada, morar fora, explorar e etc.
Obviamente, conhecer o exterior todo mundo gosta, mas me mudar para a Austrália
na verdade nunca fez parte dos meus planos. Entretanto, foram apenas três meses
desde o momento que tive essa ideia até embarcar.
Sou arquiteto,
na época estava no fim do meu primeiro semestre de um MBA de gerenciamento de
projetos, que na verdade eu estava fazendo não porque eu gostava ou me
interessava, mas por melhorar minhas chances no mercado de trabalho, sim
mercado de trabalho de gerenciamento de projetos. Mas e a arquitetura? É...
estava ficando cada vez mais longe de ser arquiteto e cada vez mergulhando mais
fundo no esquema administrativo, planejamento, projeto, planilha, excel, ahhh.
Então quis começar de novo, voltar a ser arquiteto. Acontece que o “começar de
novo” no Brasil, é complicado, deixar de ter um salário decente e estável pra
começar do zero, ou tentar abrir um negócio sem recursos e pagar pra trabalhar
até o negócio começar a andar? Foi quando meu pai me perguntou “porque não
tenta alguma coisa lá fora?”. Foi o que eu precisava ouvir.
Já tinha alguns
amigos que se deram mal fazendo isso, alguns se dando bem, alguns tentando.
Bom, vamos tentar também.
Escolher a
Austrália foi fácil. Fala-se inglês, muitas oportunidades de trabalho, além de ser
um país maravilhoso, 1º mundo, em rápido desenvolvimento, melhor qualidade de
vida possível, e não menos importante, clima tropical (em boa parte dela) muito
parecido com o do Brasil. E no meu caso, arquitetura aqui é muito valorizada.
Perfeito.
A vida aqui é
muito boa, mas não significa que é fácil. Estrangeiro aqui tem que ralar. A
Austrália é um país novo, com a população da grande São Paulo numa ilha quase
do tamanho do Brasil. Ou seja, os australianos sozinhos, não dariam conta de
acompanhar o desenvolvimento do país, por isso abriram as portas pra mão de
obra estrangeira.
Existem
diferentes maneiras de se consegui visto pra cá. Pra cada país é uma regra, no
caso do Brasil as opções basicamente são:
1- Estudante.
Você paga por um curso, e isso lhe da o direito de trabalhar 20 horas por
semana, ou seja, meio-período. Qualquer curso, até curso de surf (Se for
cadastrado no governo vale). Já um curso acadêmico, pós graduação, mestrado,
sensacional também, pois aqui tem muitos! O que não é sensacional é o preço,
pois se você não for australiano (tiver a cidadania), o preço quase que
triplica.
2- Trabalho.
Alguma empresa decide que você é diferencial pra ela, te contrata e te paga um sponsorchip (patrocínio), e fica como
responsável por você. Esse seria o esquema ideal pra se chegar aqui e trabalhar
na área. Mas pra esse além de um currículo bom e inglês fluente, tem que ter
muita sorte.
3- Skills. Você
comprova que é experiente em alguma das áreas de interesse do governo
australiano (baseado numa lista de relevância), mostrando seus trabalhos, com
referências (como cartas boazinhas dos seus ex-chefes que querem ver você crescendo
no exterior), seu diploma e histórico de notas altas na faculdade e obviamente
um ótimo inglês.
4- Cidadania.
Mais ou menos parecido com o Skills, você simplesmente aplica para um processo
de cidadania australiana tendo que comprovar de uma série de maneiras, porque
você é importante pra Austrália, assim como idade, nível de inglês, rabo-preso,
ficha-limpa, dinheiro suficiente pra se manter aqui e etc. Simples também.
5- Casamento.
Você conhece o amor da sua vida durante um passeio pro aqui e casa com um(a)
Australiano(a). A piadinha clássica que todo mundo faz quando você pergunta
como conseguir um visto permanente ou cidadania, mas também é válido. Tem gente
que faz “esquema”, faz casamento armado e etc, mas esses geralmente se dão mal
ou se arrpendem.
Ou seja. Ter o
direito de simplesmente viver e levar a vida aqui na Austrália, não é nada
fácil.
O jeito mais
fácil, que a maioria faz, é pagar um curso qualquer, pra ter o direito de viver
e trabalhar, e depois vai ser virando e vendo como evoluir, como eu também fiz, e enquanto
isso vai arrumando os bicos, e sonhando com uma empresa que se disponha a te
pagar o sponsorchip. No meu
caso escolhi um curso intensivo de Inglês de 3 meses. Agora pra renovar o
visto escolhi o básico dos básicos de inglês, com a menor presença
possível, justamente pra me dar mais flexibilidade e tempo pra trabalhar
e etc. Conseguindo um emprego bacana, com sponsorchip, e passando alguns anos com
ele, fica bem mais próximo da realidade aplicar para a cidadania e conseguir.
A realidade da
maioria aqui é mais ou menos assim: Chega aqui, passeio, balada, “amo muito
tudo isso”, “abençoada por deeeeus”, “facebook: morram de inveja amigossss,
olhem minhas fotos, como sou feliz!!!”, tudo lindo. Aí começa a procurar
trabalho na área que sempre estudou ou trabalhou, envia 300 currículos, não
recebe nenhuma resposta. O dinheiro acaba (assim como suas opções), daí você
acaba dentro de um restaurante ou fazendo faxina. Passa um ano, vê que não é o conto de fadas que
se esperava, e volta pro Brasil. Quem consegue entrar em uma empresa, num
trabalho mais interessante, as vezes dentro da sua especialidade, dificilmente volta pro Brasil tão cedo, porque daí a vida fica boa demais.
No meu caso
consegui o bico de projetista pra um construtor. Dei sorte, conheci um brasileiro,
empreiteiro, que mora aqui a 14 anos, e está me passando os projetos dele pra
fazer. É interessante, é na minha área, mas não me garante o sponsor. Minha situação não é das
piores, mas ainda está longe de ideal. Aqui, ter um Q.I. (famoso "quem indica") alto, é fundamental, bons contatos te ajudam mais do que qualquer agência de emprego e currículo firulado.
Acontece que esses
sub-empregos, apesar de sub, te dão toda a condição de viver uma vida decente,
morar bem, numa cidade com toda a infraestrutura, qualidade de vida, ter carro,
comida, e ainda grana pra passear, viajar, sair (logamente que isso não se aplica a ser um party-animal).
Tem muita gente que larga uma carreira no Brasil, pra fazer qualquer
coisa aqui e ter uma vida melhor.
Admito que vim
pra cá achando que seria mais fácil. A realidade de hoje na Austrália é bem
diferente da de 10 ou 5 anos atrás. A invasão de imigrantes aqui está tornando
a busca por trabalho e oportunidades muito competitiva. Os Indianos e Chineses
estão em toda parte, Irlandeses estão fugindo da crise lá e vindo pra cá, muito
colombiano, muito brasileiro. É uma mistura de tudo e mais um pouco aqui. No
começo você acha interessante essa grande mistura de raças, culturas e costumes. Passado
alguns meses, já não é mais novidade e começa a te irritar, te deixa um pouco
xenofóbico até.
Mas no fim das
contas tudo vale, a experiência, o tanto que você cresce, evolui, passa a ver a
vida, a sua vida, o seu país, o mundo, com uma perspectiva muito diferente.
Acho que uma experiência dessas é muito válida, mesmo quando não dá certo! Pra
mim já está valendo muito a pena e não pretendo voltar tão cedo.
Um exemplo de perspectiva
que nunca tive, é ver como um país como a Austrália, 300 anos mais novo e com
1/10 da população brasileira, tem mais do que o dobro de medalhas do que o
Brasil nas olimpíadas. É tudo uma questão de investimento em esporte, em
cultura, educação, infraestrutura, nos jovens, no nosso futuro. Isso faz muita
diferença, isso faz um país melhor.
Cara, tua forma de escrita é muito boa. Engraçada e informativa ao mesmo tempo. Parabéns. Onde anda que não posta mais? Abraço.
ResponderExcluirJoão Mateus da Rocha
Portão - Rio Grande do Sul
Sensacional! parabéns pelo post Diego!
ResponderExcluirRecentemente tenho pensado muito em ir para Austrália, só que uma das coisas que estão "pesando" é FAMÍLIA. Imagine, você passa mais de 10 anos na Australia e nem "curtiu" direito os seus pais?
hehehe é uma longa conversa! Por favor continue postando! Abraços!
Bom dia Diego.
ResponderExcluirGostaria muito de entrar em contato com você.
Sou arquiteto e estou me planejando pra ir morar na Austrália. Você teria algum email pra gente poder trocar uma ideia?
Um grande abraço,
Vitor
vitorambrosini@gmail.com